quarta-feira, maio 23, 2007

Leilão de Livros & O Regresso

Faz hoje exactamente um ano desde o último texto. Regresso. Esperemos que seja de vez.

Vai realizar-se Leilão de Livros organizado pela Livraria Luís Burnay. Apesar de ter anunciado um sítio no ciberespaço, parece que ainda não está em funcionamento (Luís Burnay, fica na mesma o link anunciado no caso de entretando ficar a funcionar).

Ainda não tive oportunidade de compulsar o Catálogo com olhos de ver. Amanhã espero já ter os destaques.

Para quem estiver interessado o Leilão será dias 4 e 5 de Junho no Hotel Roma (indicações mais precisas noutro post aqui mais abaixo) e os livros estarão em exposição a partir de dia 3 entre as 21h e as 23h30m. Julgo que aos interessados que por lá aparecerem lhes será facultado um catálogo, assim como se o solicitarem directamente à Livraria.

Nuno Gonçalves @ 12:35 da manhã  

segunda-feira, maio 23, 2005

Leilão de Livros

Talvez o último leilão de Livros da época (normalmente termina em Junho e reinicia em Outubro) organizado por Luís Burnay (não tem sítio ou e-mail). É catálogo para as bolsas menos recheadas ou para os bibliófilos que procuram obras mais curiosas que raras ou para estudiosos, principalmente das ciências humanas.
De qualquer forma há a destacar o K4 de Almada Negreiros. Os últimos que apareceram em leilão atingiram preços próximos dos 4.000 €, mas estavam em brochura e um deles com dedicatória. Este está encadernado, o que é um factor de desvalorização indiscutível para uma obra como esta.
Julgo que se o solicitarem o livreiro envia-lhes o Catálogo ou dá-o a quem aparecer nos dias do leilão. O Leilão será nos próximos dias 30 e 31 de Maio, pelas 21 h, no Hotel Roma, Rua Infante D. pedro, n.º 6, perpendicular à Av. de Roma. A exposição dos livros será nos dias do leilão das 14h às 19h. O livreiro Luís Burnay está sediado na Calçada do Combro, 43-47, 1200-110 Lisboa, telf. 213 479 346; Fax. 213 479 342.

Nuno Gonçalves @ 12:52 da tarde  

terça-feira, maio 10, 2005

Como aparecem bibliotecas em Leilões

Antes de mais, espero com este texto desmistificar um pouco a ideia que só a deterioração de uma biblioteca ou viúvas e/ou outros herdeiros “mortinhos” por se verem livre daquela “tralha” que ocupa o espaço de uma bela mesa de snooker pronta a impressionar amigos, são as únicas razões para a venda de uma biblioteca. Talvez noutros tempos essas fossem as principais razões, mas não hoje. O mercado mudou muito desde a geração Santos ou da era Arnaldo Henriques de Oliveira e já não é compatível com essa ideia.
Nesse sentido os leilões têm sido bastante benéficos. Existe enorme preocupação por parte dos coleccionadores em avisar os seus herdeiros sobre o que fazer com os seus livros por ocasião da sua morte. Mais avisadas, melhor esclarecidas, as viúvas já não são as da história que Ruben Borba de Moraes conta sobre um seu amigo a propósito das razões que levam os bibliófilos a não mostrar os seus livros:

«É mais uma questão de complexos. Há casos em que não é. É outro motivo mais corriqueiro, como o de um amigo muito querido que tive e que morreu, não de moléstia do coração, como disseram os médicos, mas de frustração, pelo facto de não poder mais comprar livros, de medo da mulher. O meu pobre amigo só comprava livros pequenos, que podia levar para casa no bolso e escorregar entre os outros sem a mulher perceber.
Quando esse bom homem me vinha ver, não dava a menor importância aos meus livros de pequeno formato. Extasiava-se, folheando os meus in-quartos, babava-se, sobraçando in-fólios. Um dia perguntei-lhe maliciosamente por que não comprava livros grandes. Respondeu-me melancolicamente:”Ela percebe!” Tenho para mim, que a vida inteira sonhou possuir uma Flora, de Martius: uns quarenta volumes in-fólio!
Quando meu amigo morreu, a viúva criminosa vendeu a biblioteca por uma pequena fortuna que nunca imaginou valessem os livros do bibliófilo frustrado. Mas o mais divertido da história é que, daí por diante, passou ela a elogiar sem medida o critério do marido, o tino financeiro que teve em empregar dinheiro em livros que aumentam tanto de preço e não desvalorizam como o nosso cruzeiro, etc., etc.»
O Bibliófilo Aprendiz, S.Paulo, Companhia Editora Nacional, 1965, pp.23-24

Provavelmente esta “viúva criminosa”, quando o primeiro livreiro chegou e lhe fez a oferta, pensou de si para si: “imagina se eu tenho deixado o meu marido comprar livros grandes!”
Não é assim hoje. As viúvas ou outros herdeiros sabem muito bem o que possuem em casa. Se antes o que pretendiam era ver-se livres daquela tralha e qualquer valor servia, hoje acontece o contrário, avaliam as bibliotecas por excesso dificultando muito o trabalho dos profissionais que, mesmo apresentando uma proposta de acordo com os valores de mercado, vêm essas mesmas viúvas dizer-lhes que as estão a explorar.
Daí que os leilões tenham ganho enorme protagonismo quando a biblioteca é de maiores dimensões, uma vez que lhes é apresentada a ideia que o mercado dita o valor e a leiloeira cobra a sua respectiva comissão, trazendo muito maior confiança e certezas. Mas também é bom que se comece a perceber que, na hora de receber o cheque, a diferença entre o que o livreiro lhe ofereceu e o que recebeu depois de retiradas as respectivas comissões do leiloeiro é pequena e torna-se ainda mais insignificante se o vendedor tiver em consideração que com um livreiro recebe imediatamente o dinheiro e com um leilão são, no mínimo, entre 3 a 6 meses.
Outras razões, no entanto, começam a ganhar peso no mercado dos livros antigos. A primeira é inerente a um novo tipo de bibliófilo, quase inexistente há alguns anos atrás. O bibliófilo hoje já não é aquele que forma ou procura formar a sua biblioteca à medida do Visconde da Trindade (vd. «Como se organiza uma Biblioteca Privada» in Manuscritos & Livros Valiosos por J.A. Telles da Sylva, v. II, pp. 7-198). Cada vez mais aparece o bibliófilo criterioso não só no tema, mas também no exemplar. O bibliófilo hoje é mais esclarecido, quase como um erudito. É comum aparecerem bibliófilos que procuram, direi assim, sub-temas que antes estavam integrados num tema geral. Apenas como exemplo, se antes se coleccionava literatura portuguesa, hoje colecciona-se literatura portuguesa do séc. XIX ou da primeira metade do séc. XX, reduzindo em muito o número de obras que se desejam.
Ora, este factor, que também se deve ao novo urbanismo, com casas mais pequenas, apenas com as áreas e as salas necessárias, faz com que o coleccionador, em pouco tempo, tenha quase a colecção fechada. Daí que apareçam em cada vez maior número bibliófilos que fazem colecções, vendem colecções e iniciam uma nova com o retorno do investimento.
Por outro lado, este carácter menos fixo, menos permanente das residências, tem feito com que os bibliófilos mais velhos, depois de ver os filhos casados, deixem de sentir necessidade de estar numa casa grande com quatro, cinco ou seis quartos, preferindo um mais acolhedor T1 ou T2. E essas casas, na maioria dos casos, não são compatíveis com grandes bibliotecas.
Existe ainda uma nova mentalidade por parte dos bibliófilos. Depois de coleccionarem durante anos a fio, dedicando quase uma vida aos livros, começam a perder um pouco a vitalidade para ir à procura desta ou daquela obra, visitar os livreiros ou ir aos leilões. É por essa altura que ponderam a hipótese de deixar o seu nome na praça, quase que para a posteridade, num último acto de vaidade que tanto caracteriza o bibliófilo. E quando essa hipótese aparece no pensamento, o leilão é a escolha mais natural, não pelo dinheiro que se possa realizar, mas pelo nome que fica gravado no catálogo.
Em suma, as razões que levam uma biblioteca a aparecer num leilão já não se ficam pelos herdeiros. Factores de carácter urbano como é o tamanho das novas casas, a cada vez maior selectividade por parte dos novos bibliófilos e até uma derradeira vaidade podem contribuir decisivamente para a venda da biblioteca. E claro, uma última razão não muito falada, até por vergonha, mas também presente, a realização de dinheiro, a recuperação do investimento para colmatar falhas de outra ordem, é cenário bastante frequente quando o livreiro ou leiloeiro visitam os coleccionadores.

Nuno Gonçalves @ 11:59 da manhã  

sexta-feira, abril 01, 2005

Próximo Leilão de Livros

O Palácio do Correio Velho vai realizar o próximo Leilão de Livros. É a Biblioteca de Manuel de Lancastre Araújo Bobone. O Catálogo está disponível em formato .pdf aqui. Confesso que ainda não tive grande tempo para lhe dedicar uma leitura um pouco mais atenta, mas, pelas ilustrações, destaca-se O Condestabre de Portugal, D. Nuno Alvres de Francisco Rodrigues Lobo e, do mesmo autor, A Carta de Guia de Casados, bem como o Testamento que fez Antonio Gomez da Mata, proprietário e fundador do Palácio do Correio Mór de Loures.
Tem também a iniguável primeira edição de Os Maias do Eça, apesar de aparentar não estar no melhor estado de conservação.
Prometo, para a próxima semana mais comentários e destaques, se os houver, a este Catálogo, bem como um pequeno texto sobre a grande escola que são os leilões.

Nuno Gonçalves @ 3:35 da tarde  

terça-feira, março 01, 2005

O primeiro Periódico Português

Gazeta...GAZETA em qve se Relatam as Novas Todas, qve ovve nesta Corte, e qve vieram de varias partes do mes de Nouembro de 1641. - Em Lisboa: Na Officina de Lourenço Anueres, 1641. - [ ]//1, A//5; [6] ff.; 195 mm.
Bibliografia: Samodães, 1370; Inocêncio, III, p.137; ibidem, IX, 418; Dicionário História de Portugal, III, p. 246.
Primeiro número do PRIMEIRO PERIÓDICO PORTUGUÊS. A Gazeta é considerada a primeira publicação "que reúne as três condições indispensáveis para que uma publicação posse ser considerada jornal: periodicidade, encadeamento e conteúdo específico, diverso do do livro ou do panfleto" [Dic.Hist.Port., 246].
Durante cerca de dois séculos, circularam em Portugal pequenas folhas volantes, denominadas "Relações de Novas Gerais" ou apenas "Relações" ou "Notícias Avulsas" impressas desde os fins do séc. XVI. Não tinham, contudo, carácter regular nem sequer rigor, pois limitavam-se a relatar acontecimentos mais ou menos importantes em Portugal ou no estrangeiro "nem sempre com grande verdade" [ibidem]. . Durante a dominação filipina ,ultiplicaram-se estas folhas volantes propagandeando contra o soberano Espanhol, levando El-Rei D. Filipe III a impor-lhes severas limitações. São as chamadas "Gazetas da Restauração", das quais a primeira é a que aqui apresentamos, que inauguram, por assim dizer, o jornalismo em Portugal, publicando-se mensalmente (com poucas excepções) até, pelo menos Setembro de 1647, tornando, assim, "periódica uma informação que até aí fora irregular, ao sabor da gravidade dos acontecimentos ou da vontade dos impressores. A folha passa a ser esperada em determinadas datas, criando-se assim os hábitos característicos dos leitores da imprensa periódica" [ibidem, p. 247]. Tendo circulação muitíssimo restrita devido ao seu elevado preço e instrução geral, a Gazeta é obra RARÍSSIMA e muito importante para a história da imprensa em Portugal, sendo por isso obra valiosa.

Nuno Gonçalves @ 4:48 da tarde  

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

O Livro de Cesário Verde

O Livro de Cesario VerdeJosé Joaquim Cesário Verde (1855-1886). - O LIVRO de Cesário Verde 1873-1886. - Lisboa: Typographia Elzeviriana, 1887. - XX-104-[4] pp., 1 ret.: il.

“Uma das personalidades mais originais, mais renovadoras da poesia portuguesa do séc. XIX.”

Jacinto do Prado Coelho, Dicionário de Literatura Portuguesa, p. 1139
Oriundo de uma família burguesa abastada, Cesário Verde ocupava o seu tempo pelas duas actividades familiares – a agricultura e o comércio – dedicando apenas uma parte dele às letras. Chegou a frequentar o Curso Superior de Letras não o concluindo. Em 1873 publica a sua primeira composição no Diário de Notícias, fazendo um interregno na publicação de 1880 a 1884, época em que aparece o poema “Nós”, escrito em1881 ou 1882, revelando já uma enorme maturidade literária. É o real que interessa a Cesário Verde - “a mim o que me rodeia é o que me preocupa” escreve a Silva Pinto – carregando a sua poesia de um amor do real, do que observa à sua volta, do que lhe transmitem os sentidos, sendo esta a característica mais original dos seus textos. “A sua poesia é a dum artista plástico, enamorado do concreto, que deambula pela cidade ou pelo campo e descreve de modo vivo, exacto, as suas experiências” (J.Prado Coelho, Dicionário de Literatura Portuguesa, p. 1140). É tido pelos ensaístas que se têm ocupado da sua obra como o percursor de dois heterónimos de Pessoa – Álvaro de Campos, o poeta citadino, e Alberto Caeiro, o camponês – na dupla dimensão urbana e camponesa sem ser bucólica patente nas suas poesias.
O único livro publicado é O Livro de Cesário Verde organizado pelo seu amigo Silva Pinto. Ao contrário do que o organizador afirma, parece que a organização da obra não obedeceu a nenhum outro critério que não o seu, e não a um plano deixado por Cesário Verde e que o seu irmão, Jorge Verde, terá facultado a Silva Pinto.
Publicado em 1887, em Lisboa, e impresso pela Typographia Elzeviriana, o único livro de Cesário Verde, teve apenas uma tiragem de 200 exemplares numerados ilustrada com um retrato executado por Columbano. É obra raríssima e bastante procurada pelos coleccionadores de Literatura Portuguesa contemporânea.
O último exemplar vendido em Leilão foi em Junho de 2004, na II Parte da Biblioteca de António de Oliveira Neves organizado pela casa SILVA'S Leiloeiros, que atingiu o valor de 4.700€. Estava um bonito exemplar, protegido por uma caixa e com uma dedicatória do irmão do poeta Jorge Verde. Exemplares sem capas de brochura não chegarão aos 500€, se possuírem assinaturas de posse entre os 1.500€ e os 2.000€, bons exemplares sem dedicatória, entre 3.500€ e 4.000€.

Nuno Gonçalves @ 6:35 da tarde  

terça-feira, janeiro 18, 2005

Algumas expressões estrangeiras relacionadas com o Livro

Contribuição do leitor João Rodrigues a quem muito agradeço:

aperto libro - latim
De livro aberto. Em qualquer parte aberta do livro.

doctus cum libro - latim
Sábio com livro. Diz-se dos que ostentam ciência livresca por serem incapazes de raciocinar.

ex libris - latim
Dos livros de. Fórmula que antecede o nome da pessoa ou entidade a que pertence o livro com essa inscrição.

habent sua fata libelli - latim
Os livros têm o seu destino. Aforismo de Terenciano Mauro, cuja obra permaneceu obscura durante muito tempo.

in fine - latim
No fim. Refere-se ao fim de um capítulo, parágrafo ou livro.

io non so littere - italiano

Não sou letrado. Palavras do papa Júlio II a Miguel Angelo que queria colocar um livro na mão da estátua desse papa. Este preferiu uma espada.

laus Deo - latim
Louvor a Deus. Frase que alguns autores colocam no final do livro como sinal de gratidão a Deus.

L. B. - latim
Ao leitor benévolo. Palavras ou abreviatura que se antepõe ao texto de um livro, como explicação preliminar; prefácio, proémio ou prefação.

loco citato - latim
No trecho citado. Referência, num livro, a um trecho anteriormente citado.

nihil obstat - latim

Nada obsta. Fórmula usada pelos censores eclesiásticos ao permitir a publicação de um livro.

otium cum dignitate - latim

Descanso com dignidade. Expressão de Cícero aplicada aos letrados de seu tempo que dispunham de recursos para levar uma velhice inteiramente dedicada aos livros.

prolem sine matre creatam - latim

Filho criado sem mãe. Epígrafe de Ovídio, que Montesquieu apôs no frontispício de um de seus livros, para significar que ele era inteiramente original.

timeo hominem unius libri - latim
Temo o homem de um só livro. Santo Tomás de Aquino empregou esta expressão para dizer que temia aquele que não tinha uma cultura vasta, mas era adversário temível quando se aprofundava no estudo de uma especialidade.

vade mecum - latim

Vai comigo. Diz-se dos livros de conteúdo prático e útil, e formato pequeno.
Os chamados livros de bolso.

vient de paraître - francês

Acaba de surgir. Usada no mercado de livros para anunciar as novidades literárias.

Nuno Gonçalves @ 2:30 da tarde