quarta-feira, dezembro 22, 2004

Importante Itinerário de Linschoten

Linschoten FrontispícioLinschoten, Jan Huygen van
HISTOIRE de la Navigation de Iean Hvgves de Linschot Hollandois, aux Indes Orientales. Contenant diverses Descriptions des lieux iusques à present descouverts par les Portugais: Observations des Costumes & singularitez de delà, & autres declarations. Avec annotations de B. Palvdanvs […]. – Deuxiesme [sic] edition augmentee. - A Amsterdam: Chez Iean Eversz Cloppenburch, 1619

COLACÇÃO
Assinaturas: (...)//4, A-Z//6, Aa-Qq//6, Rr//4, com a seguinte numeração de páginas:
[8] pp. que inclui: Portada; pp. [2] Prefácio do Autor; pp.[3] Índice dos Capítulos e das Gravuras; pp. [8] Retrato do autor.
pp. 1-185 Texto do Itenerário
pp. 186-205: Description de la Gvinee, Congo, Angola et autres Pays maritimes d’Afriqve.
pp. 1-182: em frontispício próprio: Le Gran Rovtier de Mer de Iean Hvgves de Linnschot Hollandois.
pp. 1-86, em frontispício próprio: Description de L’Ameriqve & des parties d’icelle, comme de la Nouvelle France, Floride, des Antilles, Iucaya, Cuba, Iamaica, &c.
[1] ff. Em branco
Segunda edição francesa.

Retrato do Autor
Jan Huygen van Lischoten nasceu no final de 1562 ou no início de 1563 na cidade de Halermo. Mudou-se ainda novo para Enkhuizen, uma cidade muito ligada às actividades marítimas e uma das mais importantes cidades portuárias da Holanda. Desde novo ligado ao mar, Linschoten parte com 16 anos ao encontro dos irmãos instalados em Sevilha, onde chega em 1579, daí partindo para Lisboa onde adoece gravemente. Recupera depois de o terem sangrado sete vezes e coloca-se ao serviço de um comerciante onde ganha experiência nos negócios.
Em 1583 chega a sua oportunidade de viajar ao serviço de D. Vicente da Fonseca, um dominicano nomeado por Filipe II Arcebispo de Goa, do qual um dos irmãos de Linschoten era escrivão de uma das naus.
Chegado a Goa em Setembro do mesmo ano Jan Huygen estabelece-se como escrivão do Arcebispo que, partido para Lisboa a fim de esclarecer o Rei das suas desavenças com o Vice-Rei da Índia, delega no jovem holandês a responsabilidade de cobrança das rendas e manutenção da sua casa. D. Vicente acaba por falecer em 1588. Tendo já Jan Huygen sabido da morte de um de seus irmãos e de seu pai e, provavelmente sem apoio para conseguir um novo emprego, decide regressar à sua pátria.
Embarca na nau Santa Cruz conseguindo um lugar a bordo como feitor da pimenta ao serviço da casa comercial alemã dos Fugger e Welser. Parte a 23 de Novembro de 1588 para tomar pimenta em Cochim, partindo para Portugal no mês de Janeiro seguinte. Péssimas condições atmosféricas e uma má navegação complicam a jornada, desembarcando na Ilha de Sta. Helena a 15 de Maio de 1589. A 21 do mesmo mês partem para os Açores, onde encontram mau tempo e navios ingleses que desde a tentativa de invasão da “Invencível Armada” cruzavam o mar junto às ilhas a fim de interceptarem naus espanholas e portuguesas.
Refugiam-se debaixo das fortificações na barra desprotegida de Angra, na Ilha Terceira partindo Linschoten só em fins de 1591. Chegado a Lisboa a 2 de Janeiro de 1592, regressa a Enkhuizen a 3 de Setembro do mesmo ano.
Depois de mais duas viagens falhadas, Linschoten dedica-se à publicação da ssuas obras, a principal das quais este Itinerário. Morre com 48 anos a 2 de Fevereiro de 1611.
O Itinerário foi publicado em 1596, em plena guerra dos Países Baixos pela independência do império Ibérico. Charles R. Boxer [O Império Marítimo Português, Lisboa, Ed. 70, 1992, pp. 115] observa: “[…] quando os Holandeses passaram à ofensiva na sua Guerra dos Oitenta Anos pela independência contra a Espanha, no fim do século XVI, foi contra as possessões coloniais portuguesas mais do que contra as espanholas que os seus ataques mais pesados e mais persistentes se dirigiram”.
Nesse sentido, o Itinerário de Jan Huygen van Lischoten desempenhou papel fundamental já que decrevia, de forma completa, todas as experiências, conhecimentos e informações acerca da Índia. Arie Pos e Rui Manuel Loureiro fazem um rol das informações contidas na obra:

1.marítimas, acerca da navegação dos portugueses para e na Índia;
2.comerciais e económicas, acerca dos portos comerciais da Índia, os mercadores, os procutos, os preços, as quantidades, etc.;
3.geográficas e etnográficas, sobre os países e povos do Oriente;
4.Botânicas e zoológicas, sobre a flora e fauna orientais;
5.históricas, sobre a história da presença portuguesa no Oriente e sobre os vários países orientais;
6.pessoais, sobre as suas experiências dirante a estada na Índia

Mapa
Convém lembrar que o Itinerário fazia parte do equipamento dos pilotos holandeses nas suas expedições. Ainda em 1660 e 1661, Jan van Riebeeck, governador holandês no cabo da Boa Esperança, utilizou a carta de África e a descrição da localização do Monomotapa de Lischoten para organizar duas expedições por terra com o objectivo de encontrar minas de ouro.
Gravura
O Itinerário conheceu várias traduções, a primeira das quais em inglês em 1598. A primeira tradução francesa foi lançada no mercado por dois livreiros de Amesterdão em 1610. Em 1619, o livreiro Jan Evertsz Cloppenburch, que tinha adquirido as gravuras originais em água forte de Claesz, publicou uma reedição do texto francês com as gravuras e cartas originais e em 1638 uma terceira edição.
A edição que aqui apresento, a segunda francesa, é a mais estimada pois, além de possuir as gravuras e cartas impressas com as chapas originais, tem mais mapas e está acrescentada com a Descrição da América ilustrada com uma carta da região.

Bibliografia:

POS, Arie & LOUREIRO, Rui Manuel Loureiro, <> in LINSCHOTEN, Jan Huygen van, Itinerário, Viagem ou Navegação para as Índias Orientais ou Portuguesas, ed. Preparada por Ariel Pos e Rui Manuel Loureiro, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997, pp. 7-42

Nuno Gonçalves @ 3:32 da tarde